Alguns anos atrás, enquanto servia como presidente de missão, recebi um telefonema no domingo à noite de um líder do Centro de Treinamento Missionário (CTM) de Provo (Utah). Ele compartilhou que um missionário designado à nossa missão — e que chegaria no dia seguinte — estava a ter uma crise de fé. Enquanto estava no CTM, ele começou a questionar se realmente acreditava no que havia aprendido a vida inteira. Ele então ligou para os pais e disse que precisava voltar para casa porque não tinha um testemunho. Eles foram amorosos e o apoiaram, mas o encorajaram a ficar pelo menos um dia no campo missionário. Ele concordou hesitante e no dia seguinte eu sentei com ele em uma entrevista inicial. Com muito nervosismo, ele descreveu que não sabia como poderia ser um missionário quando não sabia se a Igreja e seus ensinamentos eram verdadeiros.
Uma pergunta inspirada veio-me a mente: “Elder, o que você sabe que é verdade?”
“Eu sei que minha família me ama”.
Então eu disse-lhe que o designaria um companheiro maravilhoso e o incentivei a simplesmente sair e prestar testemunho do que ele sabia que era verdade — como uma família amorosa dos Santos dos Últimos Dias abençoou sua vida. Prestei meu testemunho a ele de que, ao estudar o Livro de Mórmon todos os dias e fazer tudo o que era pedido a um missionário, o Espírito iria ajudá-lo a obter o testemunho que desejava. Ele concordou nervosamente em tentar e, ao sair do escritório, escrevi em meu papel de anotações “50%” (o que significava que havia 50% de chance de ele conseguir ficar na primeira semana.).
Durante toda a semana fiquei preocupado com este jovem missionário sincero e bom, que tinha tantas dúvidas e que questionava sua fé. Resisti a vontade de ligar para ele e saber como estava, sabendo que isso tornaria muito fácil para ele pedir que fosse enviado para casa. Então, em vez disso, esperei ansiosamente por sua primeira carta semanal ao presidente da missão. Minha alegria foi plena ao ler o seguinte:
Querido Presidente Palmer,
Posso dizer honestamente que tive uma ótima semana. Quando falei consigo na nossa entrevista, a única coisa que me fez continuar foi o medo do que aconteceria se eu voltasse para casa. Eu realmente não tinha vontade de ficar e servir uma missão por dois anos.
Mas a partir de agora, estou tão feliz por ter me mantido aqui. Ainda não sei tudo o que preciso saber. Mas apenas nos últimos dias eu entendi completamente como a Igreja traz mudanças e felicidade à vida das pessoas. É nisso que estou a basear o meu testemunho. Sei que ainda tenho muito que desenvolver minha fé, mas este é um grande passo para mim. Eu estava estagnado entre o que estava aprender na Igreja e o que meu cérebro estava a dizer-me que fazia mais sentido lógico. Mas senti o Espírito Santo.
No sábado à noite, ensinamos um homem chamado Cory. Meu companheiro trouxe o Espírito muito forte, e eu sabia que Cory estava a sentir o Espírito tão fortemente quanto eu. Quando chegou a minha vez de falar, expliquei como Joseph Smith leu em Tiago e depois orou para saber se era verdade. Enquanto citava a Primeira Visão, mal conseguia respirar. Meu coração batia forte. Foi tão incrível.
Como eu disse anteriormente, ainda não tenho um testemunho de tudo, mas uma coisa que não posso negar é que a vida de Cory nunca será a mesma. Nem tivemos de fazer todo o convite batismal antes que ele dissesse sim. Eu não podia acreditar. Eu só fiquei a pensar no que minha mãe disse antes de eu sair do CTM, que se eu realmente não desse uma verdadeira oportunidade, Eu nunca descobriria por mim mesmo. Mas pretendo fazer isso agora.1
Esse jovem tornou-se um excelente missionário, cuja fé se fortaleceu à medida que continuava a crescer em sua compreensão do evangelho por meio de um estudo diligente — e que recebeu poderosas confirmações do Espírito prestando testemunho a outros.
Ao longo dos anos, sempre ponderei sobre essa experiência quando me deparava com aqueles que questionam se ainda têm testemunho ou têm conflitos acerca de suas dúvidas. Cada domingo de jejum, ouvimos repetidamente do púlpito, testemunhos prestados que começam com as palavras “eu sei” Mas o que fazemos se, em nossos corações, somos como o missionário descrito acima e não temos certeza?
A resposta simples é que vivemos pela fé e agimos com fé, desejando saber, mas também aceitando que é suficiente acreditar, esperar, buscar e agir. Podemos ser como os apóstolos de antigamente que pessoalmente conheciam e andavam com o Salvador — ainda assim imploravam a Ele: “Aumenta-nos a fé.”2
Alguns membros bons e honestos acham que, por não serem capazes de dizer que “sabem que a igreja é verdadeira”, não há lugar para eles na Igreja. Mas isso nega a própria definição de fé que é “não ter um perfeito conhecimento das coisas; portanto, se tendes fé, tendes esperança nas coisas que se não veem e que são verdadeiras”.3
Alguns outros membros se vêem oscilando entre crença e dúvida. Mas se eles continuarem a agir com fé, depositando sua fé no Senhor Jesus Cristo, podem ser como o pai sobre o qual lemos no Novo Testamento, que declarou através de suas lágrimas: “Eu creio, Senhor!, ajuda a minha incredulidade.”4
Outros já confiaram em seus testemunhos, mas em algum momento da jornada da vida deparam-se com uma pedra de tropeço, uma pergunta para a qual não parece haver uma resposta, talvez uma doutrina ou prática específica que os perturbe. Para isso, Morôni aconselhou: “não disputeis porque não vedes, porque não recebeis testemunho senão depois da prova de vossa fé.”5
Até o grande e justo profeta Néfi declarou: “Não conheço, no entanto, o significado de todas as coisas.”6 Mas, assim como meu amigo missionário, ele sentiu o amor de seu Pai Celestial e, na mesma frase, foi capaz de dizer: “Sei que Ele ama Seus filhos.”7
A questão importante para todos nós é: Como é que fortalecemos nossa fé?
Podemos aprender algumas lições importantes da experiência deste jovem missionário.
Primeiro, graças ao incentivo dos que o amavam, ele estava disposto a agir. Como missionário, isso significava estudar as escrituras diariamente com seu companheiro, orar e seguir adiante todos os dias a servir aos outros.
Esse é exatamente o padrão que o Élder Dale G. Renlund, do Quórum dos Doze Apóstolos, ensinou recentemente: “A única maneira de a fé ser edificada é quando um indivíduo age com fé … devemos escolher atitudes que promovam a edificação da fé, tais como orar, estudar as escrituras, tomar o sacramento, guardar os mandamentos e servir ao próximo.”8
Segundo, ele estava disposto a realmente ouvir os testemunhos de outros servos de Deus que tinham fé, incluindo seu companheiro, presidente da missão e as palavras do seu chamado missionário, de um profeta de Deus.
Joseph Smith ensinou de uma forma clara: “A fé vem por ouvir a palavra de Deus através do testemunho dos servos de Deus”.9
Terceiro, ele demonstrou retidão e obediência. Ao fazer isso, ele pôde participar do milagre da conversão e ver sua fé crescer. Em outras palavras, seu testemunho aumentou quando ele participou em Espírito, levando um humilde investigador a receber um testemunho do Espírito, mas ele não recebeu seu testemunho senão depois da prova de sua fé.10
É útil lembrar que “milagres não produzem fé, mas uma fé inabalável é desenvolvida pela obediência ao evangelho de Jesus Cristo; em outras palavras, a fé vem por meio da retidão, embora os milagres frequentemente confirmem a fé de alguém.”11
Quarto, ele não desistiu — mas estava disposto a experimentar as palavras que recebera e deixou seu desejo de acreditar trabalhar dentro dele. Aconteceu conforme Alma ensinou em seu profundo sermão sobre fé encontrado em Alma 32:26–43. Ele não lançou fora verdadeira sem*nte (a palavra de Deus) e não resistiu ao Espírito do Senhor. Seu entendimento foi iluminado e era delicioso.12 Seguindo humildemente o processo descrito por Alma, houve coisas em que a fé foi substituída pelo conhecimento e ele pôde provar o fruto precioso que conhecemos como o amor de Deus.13 Nas próprias palavras deste missionário; “Foi tão incrível.”
Ao longo deste tempo abençoado que sirvo em África, fiquei impressionado com os testemunhos puros prestados a cada domingo de jejum e pelas muitas demonstrações de grande fé que testemunho na vida dos membros. No entanto, os registos da Igreja ainda contêm muitos nomes daqueles que se afastaram da atividade. Para qualquer um que esteja enfrentando dúvidas, convido a seguir o exemplo do meu jovem amigo missionário e a agir em retidão. Pode começar por continuar a ir à Igreja e a fazer as coisas que permitem que o Espírito trabalhe dentro de si. Se sentir que não pertence, porque sua fé é fraca e sente-se incapaz de declarar “Eu sei”, entenda que há e sempre haverá um lugar nesta Igreja para si. Não está quebrado, não está perdido, não está esquecido. E quando sentir menos vontade de orar, saiba que nunca há um momento mais importante para tornar essa busca por um testemunho uma questão de oração e jejum.14
Queridos amigos, especialmente meus jovens amigos, permitam que o desejo de crer tome conta de si, e sua fé será fortalecida ao tornar o sábado deleitoso e mergulhar-se no estudo da palavra de Deus, em particular o Livro de Mórmon.15 Minha promessa é que o Espírito confirmará a veracidade do evangelho de Jesus Cristo e que, à medida que sua fé Nele for fortalecida, colherá a recompensa de sua paciência16 e experimentará milagres — incluindo o maior milagre de todos, que é a verdadeira conversão.
S. Mark Palmer foi chamado como Setenta de Área em Abril de 2016. Ele é casado com Jacqueline Ann Wood; eles são pais de seis filhos.
